Sim, tem limite.
É necessário ter.
Mas eu achava que não. É claro, a última memória de ser filha pousava na adolescência, época de romper tecidos, de sair da casca.
Da primeira infância, eu pouco lembrava ao virar mãe. Então não entendia que, para ser irreverente, era necessário primeiro reverência. Que para romper a pele, é necessário suporte.
Isso pode, isso não pode.
Isso sim, isso não.
corte. frustração.
No começo, tentava outra coisa: negociação. adulação.
Por fim, competição. Sem saber, chorava mais que a criança sedenta de bordas. Reclamava cansaço. Fugia pro espaço (sideral ou virtual). Tinha impulsos consumistas, trocava coisas por sossego: da bolachinha açucarada ao brinquedo psicotrópico, as babás eletroeletrônicas, os passeios estrambóticos.
Mas nada tinha fim.
Nada era suficiente.
Porque eu, no meu desespero infantil, na dor do meu abandono,
dava tudo, menos o fim.
Tudo menos a contenção.
Dava presentes, mas não a presença.
Pedia silêncio e dava ruído.
Acreditava-me frágil, mas não percebia o óbvio: que estávamos em times diferentes, as crianças e eu.
(ou contra mim.)
Eu, vítima dos meus próprios rebentos.
Eu, mulher feita, profissional, inteligente, descolada, amorosa, com resposta pra tudo, sem resposta pra nada, desolada, rendida, irritada.
eu, eu, eu.
eu, eu, ai de mim.
Não consegui.
Eu explodi.
Reconheci meus limites,
aterrei na presença,
dei o que ainda não queria dar, e era a única coisa que eles pediam: a verdade.
dei o que me era mais caro: a frustração de aguentar frustrar, de não me sentir amada (admirada?), boazinha.
Aceitei o fato de que era eu a única pessoa que poderia dar a eles a insatisfação das bordas.
( e aí percebi que isso era bem mais que um abraço.)
Mas que também, depois, em consolo, poderia virar abraço.
(forte, profundo lastro)
E as contenções verdadeiras, postas em coragem, abriram meu coração pro amor maior. E aí sim o abraço era acolhida. Reconhecimento mútuo da dor e da alegria de estar aqui, em pele, peito e presente.
“sim, meus queridos. às vezes dói, às vezes espanta, mas é lindo, lindo viver.”
E então não éramos mais eles e eu.
Éramos nós
Doce egrégora aprendendo juntos
um melhor ser.
Linda reflexão querida.Preciosa consciência do Ser..e Estar..`Presente na vida.
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Claudia, admiro sua capacidade de abordar assuntos densos com tanta leveza, obrigada por partilhar, um beijo.
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Amo esse texto!!!! Já li várias vezes… Tão próximo…consegue tocar sutil e tão profundamente!!!
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Deu saudades de vc! Passei aqui pra te ver, ler… Vc linda, lida como sempre!
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