Para Araci Cortes 1

(trechos da peça teatral “Pra você que me esqueceu”, sobre a vida da atriz do teatro de revista Araci Cortes. Direção de Dagoberto feliz, com Gisela Milás, Evelyn Klein e Ivan Kraut)


FIGURA

Araci, por que você não foi pros Estados Unidos igual à Carmem Miranda?

Araci, enfurecida, aproxima-se dele

ARACI

Porque ela deu o cu!

FIGURA

Nossa! Você não foi a maior de todas?

ARACI

Ah, quer saber? Bota no tijolo o que quiser, que eu sou de chita. Fiz meu nome com vestido de chita e rosa no cabelo, como é que eu vou me incomodar? E tem muita, muita gente que gosta!

FIGURA
(saindo do teatro)

Ô dona mestiça! Você está é com saudades de um tempo que já não é mais! Eu vou é embora que isso aqui tá com cheiro de mofo!

ARACI

Vai mesmo, vai embora, leva daqui esse despeito, ô seu merda! Dizem por aí que saudade é coisa bonita, tristeza é parte do samba. Pra que? Me diz aí, pra que tudo isso? Eu não! Carregar uma mala dessa? Daí eu chuto, chuto mesmo, a porta, a mala, essa maldita tristeza que parece que já nasceu agarrada no samba feito erva daninha, deixando tudo igualzinho enquanto o país se escangalha. Es-can-ga-lha!

pausa

Samba é a flor dessa terra, semente cravada no solo pisado que brota de teimosia. É muita petulância maquiada de malemolência, insubmissível! (pausa) Saudade…saudade, meu filho, é que nem fome. Só passa se a gente come a presença.

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