tem um retângulo com botões. antes era uma caixa, muitas até ainda existem por aí, mas aos poucos estão sendo amontoadas em algum canto mágico do planeta para onde vão as coisas sem utilidade, ainda que funcionem. (mas isso não vem ao caso)

nos retângulos se projetam imagens de um suposto cotidiano. soube que algumas são falsas (a que chamam histórias) e outras verdadeiras (a que chamam História). não entendi a diferença, mas isso não vem ao caso.

gritam muito nesse retângulo iluminado. entre uma coisa e outra, tentam fazer graça, tentam avisar sobre coisas terríveis que acontecem e estão por acontecer (sofrem muito por imaginação), mostram coisas extraordinárias que não fariam muita diferença no cotidiano, mas parecem imprescindíveis. no caso dessas últimas, custam dinheiros.

muito do tempo se passa ali, nos retângulos.

há também outros menores, que parecem pequenos livros abertos. nesse caso, o olhar é anda mais absorto, além de individual. também se carrega no bolso. imagino que em breve existirão na forma de óculos acoplados a fones de ouvido.

para eles, talvez seja melhor que não.

para eles, talvez esse relato seja óbvio, quase como dizer, como se fosse um espanto, que uma árvore tem galhos com folhas. realmente crêem estar fazendo algo útil com os retângulos. mas eu, que só vejo energia nos corpos em movimento, se pudesse sentir angústia, certamente me contaminaria por essa inércia inconsciente.

Diário de ET: o mais difícil de entender até agora

Terráqueos emprestam seus bens – chamados dinheiros – a um grupo privado chamado banco. Emprestam pra eles guardarem, porque as casas não são seguras. Para guardar dinheiros em bancos, pessoas deixam parte dos dinheiros como pagamento.

O banco pega o dinheiro que a criatura deixa lá e empresta pra outros, até pra esse próprio. Por emprestar, as criaturas pagam mais dinheiros ao banco. É uma lógica estranha, pois se não tem nem pra eles – por isso pegaram emprestado – como darão mais ao banco?

Os dinheiros podem ser na forma de papéis impressos, papéis preenchidos a caneta (esses ninguém gosta) ou um cartão de plástico. O cartão é o que o banco mais recomenda. É tudo mais rápido, e o banco pode intermediar tudo com muita facilidade, porque os dinheiros estão deixando de ser uma coisa concreta e estão virando informação.

Os bancos manejam bem a informação. uma outra coisa chamada mídia também, mas essa é outra coisa difícil de entender.

Recaptulando:

1) A criatura coloca dinheiros nos bancos, porque são lugares muito seguros, onde ninguém vai ser roubado.

2) Os bancos pegam emprestado esses dinheiros e os emprestam a outras criaturas, cobrando delas dinheiros (juros). mas não repassam esses dinheiros que sobraram (lucro) aos donos originais. Ao contrário, também recebem destes mais dinheiros para hospedar o deles em seus “cofres”.

3) Esses dinheiros, em breve, serão só de plástico. Ou nem isso. Essa mudança (dizem os bancos) tornará o fluxo mais ágil. Só não entendi, se esse for o caso, como o dono original dos dinheiros poderá guardá-lo consigo, se um dia quiser, se ele não fala a língua dos bancos.

Tentaram me explicar, mas não entendi. Me parece que as criaturas saem perdendo, mas se fosse esse o caso, por que continuariam colocando seus dinheiros em bancos?

O bacana (eles adoram essa palavra) é que eles tem uma ótima relação.  Nessa época do ano, bem festiva, o banco retribui todo afeto, confiança e dinheiros recebidos de todos com um grande show na avenida mais famosa da maior cidade do país chamado Brasil. Muitas, muitas luzes, bonecos gigantes (alguns com criaturas dentro – não sei como respiram) e muita neve, que cai em intervalos controlados. O que também não entendi, porque hoje praticamente derreti de calor, e me parece que está longe de nevar, se for observar o mecanismo climático do planeta. Mas todos parecem felizes, registram as imagens em máquinas portáteis, aparentam normalidade. Devo estar em curto-circuito…

diário de et: coisas difíceis de entender

Nesse último domingo, a espécie se mobilizou para escolher seus representantes nos “cargos de poder”. Pelo que entendi, eles preferem votar uma vez só, para não precisar escolher mais nada nos próximos 4 anos, ainda que essas escolhas os afetem diretamente. Incompreensível, como muitas outras coisas que ando pesquisando por aqui.

Para os cargos executivos, eles levam a escolha bastante a sério. Fazem debates públicos, que se parecem bastante aos programas de humor que também produzem. Apesar de haver diversos partidos, as partes no horário da TV não são iguais, o que me confunde um pouco quando releio no dicionário  o conceito da palavra democracia. Apesar das várias opções, sempre terminam nas mesmas duas. Talvez se sintam perdidos com muitas escolhas, depois de um longo período de ditadura, que graças ao Deus deles, dizem que terminou.

Para o legislativo, eles são mais relaxados. O maior representante eleito é um palhaço, o que demonstra o enorme senso de humor dessa espécie. Talvez seja para continuarem com o epíteto de “país da piada pronta”. Ou, quem sabe, é um representante contemporâneo dos bobos da corte. O que também me confunde um pouco, porque pesquisando a função histórica dos bobos da corte, da bufonaria, não corresponde ao personagem eleito, cujo humor é bastante raso e pouco provocador. Talvez ele ainda carregue consigo alguns outros cadidatos não eleitos, ou seja, que ninguém quis, mas mesmo assim vão decidir sobre leis que afetarão a todos. Por esse motivo estranho, alguns tem chamado o palhaço de “cavalo de tróia”, uma outra referência histórica vinda do mesmo povo que inventou a democracia. Uma última curiosidade: tiririca também é o nome de uma praga que dá em grama, e se alastra bastante. Em Brasília, além de muito concreto e espaços vazios, há muitos gramados também.

novas intervenções na cidade

Eles sorriem para mim. São muitos rostos impressos em grandes placas. Colocados estrategicamente nos lugares onde a gente mais passa, onde o carro pára por causa do trânsito. Achei muito simpática essa ação do município, lembrar a todos nós a simplicidade de um rosto querendo ser amigo. Só não entendo ainda as letras e números colocadas como código sobre os rostos, talvez sejam formas de se obter contatos imediatos. Tentei usar o aparelho designado a esse fim teclando os números, mas não registrei sucesso. Alguns deles também são alegremente puxados por pessoas com um meio de transporte bastante saudável denominado bicicleta. Pessoas vestidas de joaninhas também distribuem pepéis, mas esses são fotos de prédios. É muito interessante ver como essa espécie busca calor humano em pequenas coisas.