(*)
Sente
O vapor gelado pelos dentes
sente
a urgência de não esperar a permissão
permita
o selvagem quase sepulto
evita
o perverso da submissão
Aceita o que é puro, mesmo que pareça devasso
recusa
o que é pudico (puto)
mesmo que pareça recato
enxota da alma toda a obediência
dispa-se em meia-noite de lua
no meio da noite do medo. no som da noite do medo.
nem que seja para uma contemplação de si mesma
Resgata a divindade
ser. exatamente
o que a Terra chama
resgata
toda a força que umidece
mas não apenas chora
que empalidece
mas de prazer
Amote a mim
e por isso,
só por isso
também a ti.
(*) esse, entre outros textos, fazem parte da minha primeira experiência como dramaturga. Um processo colaborativo com a amiga Ana Roxo, ainda na ECA, há exatamente 10 anos. A Praça do Relógio estava tomada pela primavera, e na cena final atores saíam correndo de trás de flores gigantes gritando EU TE AMO, entravam num carro e iam embora. uma coisa deliciosa.teve gente que achou besta, mas a gente amou, literalmente.
Um momento especial da vida, mesmo. Essa é a peça que ainda talvez um dia a gente faça.