recentemente, roubaram as ferramentas do Dja no seu local de trabalho. como sempre, nesses casos em que a gente se sente invadido, ficamos um tempo elaborando isso. sobre o que significa pegar o que é do outro, o que significa ser roubado, sobre por que isso acontece, que brechas a gente deixa, o que fazer a partir daí, etc etc etc. complexidades.
aí ontem fomos a uma festinha de aniversário. quase no fim, o Gabriel estava com uma bexiga na mão – e havia pelo menos umas trinta espalhadas pelo chão do salão – e um menino cismou de pegar justo a dele. pior, queria a bola para dar ao aniversariante. não cabe a mim julgar as razões dos filhos dos outros (ou vou guardar pra mim, que já é muito), e bem sei que num monte de moleques juntos, nenhum é santo, mas estou contando isso pra descrever meu estado: o tal menino – maior, é claro – perseguiu o Gabriel até a piscina de bolinhas, e lá conseguiu, à força, tirar a bola das mãos dele. eu, a duras penas, me segurava no papel de observadora. vi o meu filho gritando: é meu! é do Gabriel! eu, na espreita, de prontidão, paciência forçada, rangia os dentes, enquanto ele reagia, guerreiro, sem auto-piedade. tive que deixar ele viver esse momento, tão dele, sem interferir, mas sentia dentro de mim o impulso de avançar num salto pra defender a cria da criança equivocada. pelo bem dele, me segurei. no fim, o próprio aniversariante, percebendo a injustiça, devolveu a famigerada bola ao Gabriel, frente ao olhar indignado do escudeiro.
coisas de menino. Gabriel saiu da piscina satisfeito, confiante na Justiça Divina. segundos depois, conquista lograda, largou a bexiga no chão.
e eu entendi o que é gritar “é meu” sem culpa, sem egoísmo, por pura evocação do que está certo dentro do jogo. porque mesmo pra ser generoso, a gente só dá o que primeiro tem.