sim, eu posso.
posso ser violenta, se esse for meu jeitinho.
posso ser violenta, se for conveniente.
posso ser violenta, porque às vezes é justificável.
posso ser violenta, porque às vezes é mais rápido.
posso ser violenta, porque preciso de você agora!
posso ser violenta cedendo à sua pressão (e te odiando em segredo por ter me violentado)
posso ser violenta, porque às vezes o outro merece (ou preciso impedi-lo de ser mais violento que eu)
mas tenho que saber que isso não muda nada. na melhor das hipóteses, adia o confronto para um novo momento, onde ainda seremos dois times: o “você-que-me-violenta” e o “eu-preciso-me-defender-de-você”
Não-violência ativa exige energia livre. Exige ficar, e não ceder ao impulso de abandonar o outro à sua compulsão. Exige não ceder à delicia de deitar o braço (mesmo um braço simbólico), à catarse de se deixar levar pelo turbilhão de uma força que, ilusoriamente, chamo de minha, mas é coisa que também me toma, e também me bate.
Não-violência depende de muito amor. muito amor mesmo. incondicional, para que eu te acolha numa atitude totalmente fora de minhas expectativas. e muita escuta.
Abraçar você no seu “pior”, na sua treva de sobrevivência, naquela hora em que você me agarra e quase me afoga como tábua de salvação, é tarefa árdua, quase titânica.
Mas às vezes, eu consigo. E só assim, consigo também nos salvar. Então é tarefa humana.
Depois de ver tudo isso, posso até ceder ao beijo da violência e me enganar, mas dura pouco.
já sei que é preguiça espiritual.