a favor

caminhava por fricção.

então necessitava de um solo duro, árido, para me contrapor.

até a não-violência já me parecia oposição.

minha liberdade de movimentos dependia de uma luta diária contra meu chão,

corporação. patriarcado. verticalismo.bandos opostos. tanta mentira.contradição.

 

até que vi ser impossível fixar raízes em algo contra o qual se luta.

para acelerar o movimento, raspava os pés, touro desenfreado em direção a vermelhos aleatórios.

enquanto isso, a cabeça calculava movimentos. e o corpo arqueava, vazio de tanta pressão nos extremos.

 

um dia, meus pés já secos de tanta briga,

começaram a coçar,

depois ferir,

depois sangrar.

recusaram-se a caminhar.

pediam trégua, água.

deixaram de ouvir os comandos do general geral do alto comando central

 

o centro da voz interna escorregou pra pineal

o centro do movimento externo subiu pro planalto central.

 

revirou meu estômago

mexeu nos meus medos

instalou-se no coração

 

e o fogo que ardia meus pés acendeu a fogueira da alma.

 

e me vi assim: tocha acesa.

 

sem pressa. só presença

 

e a mente ordenando comandos vazios

 

.

(só espera)

 

até que meus pés, finalmente livres,

 

descobriram um caminhar para cima. movidos pela fogueira da alma, com a terra fofa acarinhando o percurso.

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