adjetivos: um poder de traçar veredas

Ele estava impossível! a cada minuto, necessitava de uma intervenção.

a todo momento, eu o alertava sobre

não bater

ter cuidado

não ocupar o espaço do outro

não falar mentira

etc etc etc bla bla bla de mãe.

 

aí ontem ele me fez uma comparação incrível: o desenho do meu anel (cheio de nós celtas) com o desenho do caroço do abacate. (já viu um? sua casca parece um desenho de raízes entrelaçadas)

 

fiquei maravilhada. elogiei, espontaneamente: você foi muito inteligente, querido!

ele sorriu. seu olhar, instigado, pediu por mais.

você sabe o que é inteligência?

(ai, a responsabilidade das primeiras definições)

é quando a gente tem idéias boas pra todo mundo.

(foi o que veio no improviso)

 

ele ficou feliz.

os olhos brilharam.

seu coração ficou aliviado: havia sido solto de uma prisão contraditória.

concluiu: agora não vou mais fazer coisas chatas, mãe. sou inteligente.

 

então vi a dificuldade que eles tem entre diferenciar o estar e o ser.

se eu aponto só as coisas “chatas” que ele faz, isso o define e marca a tendência para um próximo ato igual.

e ele passa a achar que é assim.

 

mãe e pai têm que cuidar dos adjetivos. pai e mãe nomeiam.

melhor nem adjetivar. são as ações que contam. nada é permanente.

mas ontem eu apontei sua virtude, coisa que também ando fazendo há algum tempo, mas dessa vez  mostrou seu poder transformador,

e ele sentiu-se em casa nele mesmo.

 

e passou a noite em harmonia, tendo mais meia dúzia de idéias inteligentes.

 

gabriinteligente

2 respostas para “adjetivos: um poder de traçar veredas”

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: