Saiu da escola com coração abalado. Forçando uma brincadeira, havia machucado uma das meninas da classe, pegando no seu braço com força além da conta. Ficou roxo, ela reclamou, mostrando que doía.
Ele, aprendendo a duras penas o limite do corpo alheio, na volta pra casa, ficou amuado.
– Tá tudo bem?
– Não.
– O que aconteceu?
– Tô com vergonha.
– Conta que passa.
(Tentou falar, mas a fala não saía)
– Tô com vergonha.
– Conta se quiser, então.
(Silêncio no carro. Agonia era tanta que dava até pra apalpar no ar. Passaram-se duas músicas e uma eternidade)
– Agora eu quero falar.
(A história saiu doída)
E eu, orgulhosa da vergonha dele. Da culpa não, culpa não presta pra nada. Mas vergonha na cara sim. Sentir o sentir do outro, especialmente quando a gente machuca esse outro, precisa de muita coragem.
Eu disse isso a ele.
Mas ele não se perdoava.
Precisava de mais tempo além da dureza das penas.
Precisava do belo que cura a dor das pontas.
Já em casa, silenciou,
serenou.
Então a fada, nele, falou: resolveu dar desenhos de presente. Pediu aquarela, colocou-se diante das páginas em branco com a franca disposição de fazer algo bonito, não apenas para a amiga, mas para todas as meninas da sala. E fez quatro desenhos lindos e coloridos, amarrou com fita rosa, colheu quatro pedras no jardim e colocou tudo na mochila, ansioso pelo dia seguinte.
Então ele curou seu coração,
e a mãe feminista derreteu.
Que coisa mais linda! Lindo relato. Lindo ato!
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