Meu inverno é fluxo. Minha paz é vermelha.

 
30 dias já. Nada dela chegar.
Isso é terrível. Essa suspensão, sob um céu cinza, trovejante.
Tempestade que ameaça, mas nada de água.
 
Às portas da tenda, aguardo a autorização para o repouso. Tenho me dado esse suspiro: pelo menos, um certo recolhimento. Aquele, para a refazenda.
(ai, abacate do Gil, fruta-fêmea que se escuta e respeita).
 
Mas nada.
Não é gravidez, fiz até o teste. Nada excepcional.
Apenas espera.
 
O fluxo, antes, era reduzido. De 28 pra 25. Três dias apenas na conta da diferença, até passei em consulta pra ver se tudo bem ficar assim, “desregulada” e tal – contudo, em segredo, gostava dessa estação adiantada. O resguardo virou luxo em tempos de tanto barulho. Essa era minha pequena subversão: adiantar-me à lua. Experimentava o fluxo ora na cheia, ora minguante, nova ou crescente, esse pequeno delay me fazia caminhante pelas fases, vivendo o descanso em cada uma delas.
 
Agora, tudo parou.
Aguardo, estática, a chegada da quarta estação. Anseio por ela, que para mim não é fria.
É silêncio.
 
Mas nada.
 
Quem me avisa?
“Não farei mais por você, ó mente inquieta, a tarefa de apaziguar tremores.”
Avisa a mim ou o que penso ser, identificada com o pensamento que já voa além do calendário gregoriano?
 
Corpo, taurino que é por essência, empacou.
A cabeça do touro, forma-útero, então me falou por dentro, por baixo, do centro:
 
“Se eu sou você, então venha aqui me escutar. Venha e seja, desidentifique-se com a palavra corpo, como algo que se vê sem estar. Corpo é só ser, coisa una. Seja corpo, e deixe a mente ser o outro – até estranho – a que você se refere como coisa fora de si.”
 
Muito confuso – pensou o ser-mente, coisa que penso ser.
 
“Seja, ou não sentirás mais o giro do fuso” – Sentenciou.
 
Sede de vermelho. Sede de fluxo, do descanso do ciclo. Quero noite, quero escuro, quero a caverna que me refaz e acalenta. Quero o colo da mãe, aquele que me embala nesses três/quatro dias de júbilo. Quero sangue.
 
Em mim, o inverno ainda aguarda.
Céus em tempestade.
Nunca senti que seria tão desesperadora a imortalidade.

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