Todo mês ela subverte. Em seguida, cede. Não por falta de coragem, mas por já ter introjetado a crueldade do padrão. Triste: ao terminar, sente-se melhor, ainda que o antes seja um sempre martírio. Sempre adiado. Às vezes, um mês escapa, em trégua. Ela finge não perceber, finge não perceber-se.
Uma vez entregue ao ritual, tem que ir até o fim. Parte por parte, sacrificando a carne. Há quem o faça entre outras, entre revistas e fofocas. Mas só de pensar na possibilidade dos olhos cúmplices, das mãos cúmplices, ela gela: não. Terá que fazer com as próprias mãos. Dizem que ela o faz da forma mais dolorosa, hoje há tecnologia para menos – pra que? Não. Ela resgata, a cada vez, a dor da primeira. Como se mil agulhas entrassem pelos poros, e todo o sofrimento tivesse como recompensa uma única verdade: está mais bonita.
Mais tarde, crescida, percebeu o engodo. Já era tarde, já estava contaminada da necessidade de se livrar deles. Sem perceber, usava como metáfora o verbo desmatar. E só há pouco percebeu a natureza velada dessa coincidência: colocar-se a serviço da prestação de serviços. Ser permeável, nunca selvagem, dificultada. Ser lisa, macia, suave.
Hoje, a pele acostumada nem chia tanto. Chio eu, alma ferida, domada, submetida. E com vergonha, muita vergonha, pela brecha aberta no ser, coloco a cera fria no papel transparente.