conseguindo parar para ver

que o olhar meio estrábico de alguém que vejo sempre desperta em mim a beleza da assimetria; que no ar, entre o céu e a terra, cruzam pequenos pontos brancos, leves, inconstantes, às vezes penas, às vezes painas, às vezes nem sei; a ternura de testemunhar pequenas conquistas, como a própria mão escovando feliz um dente de leite; que alguns fios brancos somados na fronte de quem se ama torna presente o tempo do tempo, a dor da passagem, a alegria de vivercom; que um resfriado não é o fracasso do corpo, mas inverno que entra na pele pro corpo virar mais abrigo;

estou conseguindo parar para ver

a impaciência do ser enclausurado na casca do deve ser; que uma semente pode ser barco, fluir pelo rio, mas logo depois virar chocalho;

que no meio do vazio de uma mata uma folha cai, silenciando o silêncio,

enquanto, dentro de mim, todos os ruídos se arranjam em caos iminente.

É quase grosseiro dizer assim, o que se sente: submeter o éter à dura casca da palavra. mas as cascas das sementes também são duras, gerando um oco. E não é da semente que a vida brota, mas da caverna do vazio que nela vive.

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