O gigante acordou! brandamos, orgulhosos.
e sim, foi motivo de orgulho: a manifestação do despertar consciente.
porém, com o caminhar da lua no céu,
o gigante se revelou multifacetado. E mil cores ainda desconhecidas (ou indesejadas) pintaram seu rosto.
então miramos com horror para a face informe do que somos. talvez, pela primeira vez, em contornos tão claros, refletidos nas ruas de asfalto, tão cinzas e tão espelhadas.
algumas dessas faces, órfãos de pai, de pátria, de comando, pedem ordem.
algumas sentem medo
algumas fritam o cérebro buscando respostas rápidas
é duro, é terrível: mas junto com o tal gigante, acordamos nossa consciência para o ser ferido e fragmentado que somos: um ser perdido entre múltiplos discursos e gritos de ordem.
não é uma pátria, não é um pai. é um grande órfão pedindo cuidado.
mostrando, com sua violência, o abandono sofrido
reclamando os anos tomados
mas revelando, também, sua enorme potência.
é duro aceitar a face torta, e torto é sempre o outro.
está sendo difícil olhar para tudo como um único ser que chama por justiça. a justiça que rege o universo, as leis do amor universal.
hoje acordei dolorida. então resolvi curar.
e percebi que pedimos: “cuidado!” não apenas por medo. não há porque ter medo, as forças que regem o país estão cada vez mais claras, iluminadas pelo sol e pela lua. o oculto agora se revela.
Cuidado! = atender. cuidar do novo que brota no meio ao caos.
cuidar e confiar
que o verdadeiro gigante ainda está às portas, ainda semente, e é o novo espírito que está nascendo.
Que o amor dissolva a dureza da terra, para que nosso corpo possa ser fértil,
e deixar brotar,
apesar do difícil pensar, e do tortuoso agir.
E se o novo, para chegar, pedir sangue
que esse seja o sacrifício vindo não da violência,
mas do nosso consciente parir. a dor de se auto-gerar.
pra nascer.