foi hoje do ano passado
hoje é chuva,
lá era sol.
mas chovia dentro das veias, eu cachoeirava pelas ventas
t(r)emia nem tanto a dor conhecida, mas a certeza de que você traria atado aos pés um certo tipo de bússola
eu já sentia esse norte apontando com você ainda no ventre
sabia que a vida caminharia pros eixos
sabia que sua existência me cobraria harmonia
e como temer tudo isso?
(não é lógica, é inércia)
e você esperou, paciente, que eu terminasse minhas guerras. esperou que eu gritasse por socorro. esperou que meu orgulho cedesse. esperou que eu desistisse de tudo o que achava ser chão, até que a terra verdadeira me amparasse pelos braços
você esperou, paciente, que a Mãe chegasse à nossa casa
e ela se apresentou
e ela me acalantou
para que eu tivesse forças pra te conduzir e embalar
e ela me encantou
e ela me transformou
até que eu, feita terra,
em terremoto me abri.
até que eu, frente à fera,
fiz a entrega e parti.
e então,
e só então
você chegou
e eu morri.
(feliz primavera, caçulinha amado!)