um ano de Francisco

foi hoje do ano passado

hoje é chuva,

lá era sol.

mas chovia dentro das veias, eu cachoeirava pelas ventas

t(r)emia nem tanto a dor conhecida, mas a certeza de que você traria atado aos pés um certo tipo de bússola

eu já sentia esse norte apontando com você ainda no ventre

sabia que a vida caminharia pros eixos

sabia que sua existência me cobraria harmonia

e como temer tudo isso?

(não é lógica, é inércia)

e você esperou, paciente, que eu terminasse minhas guerras. esperou que eu gritasse por socorro. esperou que meu orgulho cedesse. esperou que eu desistisse de tudo o que achava ser chão, até que a terra verdadeira me amparasse pelos braços

você esperou, paciente, que a Mãe chegasse à nossa casa

e ela se apresentou

e ela me acalantou

para que eu tivesse forças pra te conduzir e embalar

e ela me encantou

e ela me transformou

até que eu, feita terra,

em terremoto me abri.

 

até que eu, frente à fera,

fiz a entrega e parti.

 

e então,

e só então

você chegou

 

e eu morri.

 

(feliz primavera, caçulinha amado!)

 

chegada de Francisco

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