– Mãe, tô com medo.
– Do que, Chico?
– Da folha!
Foram dias assim.
Não adiantava perguntar que folha era aquela. Muito menos dizer que folha não mete medo, não se faz isso com o imaginário de uma criança. Eu, que tinha medo até do triângulo das bermudas, medo de que meu pai fosse sequestrado por extraterrestres, medo de areia movediça, medo de trocar de dentes, medo de Gremlin, medo do Nada (da História sem Fim), de cão raivoso no mês de agosto, de todas as doenças que o Fantástico anunciava, medo de tanta coisa absurda que não caberia aqui dizer, era a última pessoa com direitos a pedir por um mínino de explicação do por que o Francisco tinha medo de algo tão insignificante como uma folha.
Mas e aí, o que fazer?
Comecei a perceber que isso acontecia mais no crepúsculo. Achei que seria sono. Ele sempre chorava na hora mágica, ficava querendo colo quando estava prestes a dormir, não sei se lida muito bem com esses umbrais. Será que a folha é esse quase-escuro?
Aos poucos, foi virando uma folha em branco, tela onde eu projetei primeiro os medos dele, depois os meus. Porque é tanta coisa absurda que ainda segue me aterrorizando, tanto medo infundado, medo de conta bancária, medo de polícia, medo de político, medo de ficar sem água, e fora o medo de areia movediça e rio que vira lama, que ainda tenho. E mesmo que uma voz cálida e cheia de abraço me acolhesse, seria essa a solução para um futuro aterrorizante? Dizer que aquilo não existe?
Amei!!! (como sempre)
Lembro de sempre ter medo de trovão! Acho que começou com uma tempestade que destelhou a casa quando eu ainda era muito pequena.
E o que fazer, como mãe, quando a criança com 1 ano e pouco está no carrinho dentro de casa, com uma tempestade desabando lá fora e a casa enchendo d’água?
Lembro de me cobrar para não demonstrar medo para a Lulú. Por que raios a gente se presta a esses absurdos??? Fato é que me vi cantando com ela: Você não me assusta! Eu que te assusto! Buuuuuu, trovão!!!!
Depois disso, muita risada e o medo (dela) desapareceu!
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