História pra casar gente linda

Tudo começou com São Jorge.

Não, eu não errei de santo. Foi em São Jorge mesmo, um vilarejo perto de Alto Paraiso. Um lugar assim, gostosim, sabe, bom pra dançar um forró…

Tava lá a moça, só observando a dança… De repente, uma mãozinha muito esperta, como quem não quer nada, encostou no seu ombro. Era de um moço que tinha vindo lá da Alemanha, apaixonado pela música e pelas belezas brasileiras…

De repente tudo o que ele sentia pelo Brasil tinha rosto. Era o dela. Mas ele não se contentou só em olhar não: o que os olhos estavam vendo os pés também queriam experimentar. E o Matthias, desinibido que só, a convidou pra dançar.

A moça aceitou, pra alegria do cupido. E eles não pararam numa dança não! Foram duas, três, quatro, até que, ao mesmo tempo… aconteceu.

Um beijo.

Aí pronto. Não deu mais vontade de desgrudar.

Mas a história tava só começando… e era uma noite toda pintada de estrelas, porque São Jorge não tinha luz artificial pra ofuscar o encanto. Então o moço, sabido que era, convidou a moça pra observar o céu. Até encomendou uma chuva de meteoros pra noite ficar mais bonita, e pra ele ficar exibindo seus conhecimentos pra ela.

É, ele entendia de estrelas sim.

(Esse aí tinha um monte de cartas na manga, viu?)

Papo vai, beijo vem, já tinha ficado tarde. E não é que o cupido aprontou de novo? A amiga da Thâmile, que dividia a barraca do camping com ela, sumiu no meio da madrugada levando a chave. Cadê que a moça tinha onde dormir?

Vejam que problema…

O Matthias, muito cavalheiro, lógico, ofereceu um lugarzinho lá na barraca dele. Ela não ia poder ficar no sereno, não ia fazer muito bem pra saúde.

Aí já viu.

Mas nem deu muito tempo de dormir não, sabe? Porque logo o dia já tava querendo aparecer, e lá foram eles ver o sol nascer. A Thâmile ficou meio reticente, inventou uma história de medo de onça, mas o Matthias (já falei que o moço é esperto) logo descobriu uma antena pra eles subirem. É isso mesmo, uma antena. Ficaram lá no alto, sentindo um ventinho gelado no rosto, outro arrepio gelado na espinha, a assim passou o nascer do sol, o café da manhã, e nada da vontade de se separar chegar.

Então eles marcaram outro encontro, pro final da tarde.

A Thâmile chegou lá, na hora certinha, cheia de planos e memórias boas, mas… nada dele aparecer.

(Olha, nessa hora passa o mundo na cabeça da gente, viu?)

Ela já tinha até desencanado, tava lá bebendo uma cachacinha, quando surgiu o Matthias, todo esbaforido. Sabe o que aconteceu? Dormiu. Perdeu a hora! E haja cupidinho com GPS soprando no ouvido dele onde essa moça aí estava! Ainda bem que deu certo!

No dia seguinte, acabou a festa… A Thâmile iria voltar pra Goiás, o Matthias pra São Paulo. Mas isso era distância pouca, porque eles trocaram telefones e depois iam ver como a história ia seguir.

Mas o Saci atacou de novo. Deu um nó no celular da moça, e foi um nó tão bem apertado que deu um pau geral. Ela teve até que trocar de número.

E aí? Já pensou? O moço ali, todo apaixonado, mandando mensagem e nada?

Ainda bem que ele era muito insistente! E ainda bem que tinha pegado também o contato da amiga da Thâmile, aquela mesma que perdeu a chave, aquela que tinha parte com o cupido, sabe?

Pronto, ela colocou os dois em contato de novo, daí já era.

Era ligação pra cá, Skype pra lá, era conversa comprida que ia até três da manhã… Era viagem de quinze em quinze dias pra ver o amor, era moça conhecendo a Monte Azul, era moço comendo pequi de monte, era moça cantando pra ele, era ele tocando pra ela… Era vontade danada de estar junto crescendo, e essa vontade virou mala, virou viagem, virou certeza, virou passagem só de vinda pra São Paulo.

E a moça chegou.

E o moço ficou muito feliz.

E ele, cavalheiro, de novo ofereceu um pedacinho do chão dele pra ela ficar.

(Só enquanto ela não achava um outro canto.)

Ah, mas o canto dele era tão bom!

E o cantar dela era tão bonito!

Não quiseram mais se separar não! Então fizeram casa nova no Butantã, casaram pra além do mar, nas terras onde ele nasceu, casaram de novo no Brasil, num dia de sol e cor, e querem correr esse mundo todo no amor, na dança, na música e na poesia, que foi a primeira casa onde eles se conheceram.

Bendita seja essa gente estranha, com alma de passarinho, que insiste em fazer festa nos tempos de palavra dura.

 

 

 

(Quando a Thâmile me pediu para escrever a história de como ela e o Matthias se conheceram, fiquei honrada. Quem me conhece sabe que eu não resisto a um causo de amô, ainda mais tão verdadeiro! Escrevi a partir dessa atmosfera que eles transmitem, e o texto fluiu tão rápido que parecia estar ouvindo uma contadora de histórias aqui, no pé do ouvido. Só emprestei os dedos.)

 

3 respostas para “História pra casar gente linda”

  1. Caraca! que linda história de amô! Thâmile é uma querida e eu já amo o Mathias sem conhecer! E vc é danada de boa pra contar um causo. Muita luz no seu caminho, e que suas mãos não parem de transpirar! bj

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