Todos os dias temos a “hora da história”. Um momento de recolhimento antes de dormir. Equalizar a escolha do conto não é fácil, são idades muito diferentes. Mas, com um pouco de ginástica, funciona.
Até que chegou o dia.
Quando me dei conta, estava falando sozinha.
Pedro lia um livro, Gabriel outro, e o Chico os imitava.
Fiquei puta. Dei chilique. “De que adianta contar uma história se ninguém quer escutar?”
Discursei sobre a preciosidade do meu tempo, escorrido inutilmente naqueles minutos inférteis. Bla bla bla.
Eles se sentiram culpados.
Eu me senti uma déspota.
(eu fui, de fato, uma)
Quando a rainha de copas abandonou meu corpo, entendi meu ataque de frustração: como ousam não depender mais desse rito, nosso ninho enredado pelas tantas histórias contadas?
Como ousam crescer em plena quarentena?
O que eu faço com esse espaço aberto, escancarado, na minha vida?
…
Ontem li um conto para o Chico, enquanto os dois liam seus próprios interesses.
Todos juntos, no mesmo lugar: nossa biblioteca-cafofo-de-embalar-sonhos.
“A gente gosta de ficar perto de você, mãe.”
Claro, filho. Claro…
Pode ficar…
Para sempre.