indo.

No silêncio dos dias, agradeço. No silêncio da noite, espero. No silêncio forçado dos meus pensamentos, descubro. De repente, eis que aparece outra ela, outra coisa, outra eu. Não sei se tem nome de eu, porque vem no silêncio do que achava ser pensamento, achava ser corpo, mas descobri ilusão. De surpresa, cavando espaço na fratura, surgindo de um tremor do corpo, brotando de um choro desmedido e inesperado, um ser que sinto ser. Quase me apresento a ela, tão estranha que me parece, apesar de tão familiar e antiga. Brotando de uma quase perda de consciência, brotando de uma terra devastada. Brotando de um hiato, de uma fenda na continuidade. Surgindo da instabilidade, de uma vida que parte de um corpo que fica, confundindo o que se sabia claro, o que se pensava fixo. Abalando certezas. Anunciando rupturas. Agora, em fricção, agora, em conflito, gerando faísca. Lado A, lado B, lado A, lado B, até que sejam de novo um só. Até que se rompa a ilusão de dualidade. Lado A, lado B. A respiração se confunde, servindo a dois seres. Lado A, lado B. Não sei mais de meus apoios. Percebo a mudança a galope, seguro o que penso inutilmente, sabendo que o melhor é ir, sabendo-me no medo do não-ser. Percebo a necessidade de ser humilde, pressinto a mã(e)o que me ampara, peço para que eu acredite num campo de fé estilhaçada. Nem vítima sou, só ser vivente, talvez espantada com o excesso de ar disfarçado de falta. Aceito o novo (a nova?), ainda que em luta. Entendo a extrema necessidade de outras mãos humanas, ainda que também dormentes, mas carregadas de compaixão. Percebo o orgulho que me ata ao que foi. Peço, porque percebo que só me resta pedir. E agir.

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