“Em um altar, ao lado de uma cesta de flores, há sempre uma cesta de pedras”.
Essa frase foi soprada no meu ouvido, e desde então, penso sobre ela.
Não é uma crítica à sincera devoção, que sim, existe. É sobre um determinado tipo de “devotos” – às vezes chamados de seguidores – que na verdade são perseguidores. Do poder, do trono, e também de qualquer pessoa ou proposta que atrapalhe seu projeto individualista.
Pois bem, são esses “devotos” que levam flores a um altar onde padece seu manequim, a quem chamam de líder. O boneco mitificado, também iludido, pensa ser ele o objeto de adoração, e crê que o poder que experimenta é seu.
Não, é emprestado.
Não percebe que sua própria face foi transformada em mortalha, onde são projetados os rostos de cada um de seus adoradores no momento em que se curvam. Mas, quando o boneco passa a se mover por si mesmo e deixa de prestar o serviço de ser uma tela de projeção, os mesmos adoradores voltam seu olhar para a cesta de pedras.
E atacam.
O manequim, então, se percebe sozinho, e não entende como seus milhões de seguidores desapareceram. É porque nunca existiram. Adoram, na verdade, o poder que poderiam ganhar através dele, que não era nada além de mais um degrau para a ascensão.
Na pirâmide social.
A pirâmide é uma forma interessante. São quatro faces que, quando elevadas, encontram-se em um ponto comum, que as unifica. Representa, portanto, a visão integral, a confluência na diversidade. Vista assim, em dinâmica, é uma forma-síntese da evolução da consciência, que integra as várias faces que nos divide internamente. Formas similares, como as espirais, já foram utilizadas por diferentes culturas como símbolo da transformação interna, que acontece devido ao movimento em direção ao alto.
Um movimento.
A pirâmide, portanto, como uma imagem de percurso unificador, é um símbolo de integração interna e externa. Porém, se sua forma torna-se estática, como uma arquibancada de classes e poderes onde são fixados seres da mesma espécie e de igual grandeza, uma doença se instala. Porque, assim como acontece no nosso corpo, algo que deveria fluir fica estagnado.
Nessa pausa forçada, ao invés do movimento ser um caminhar coletivo para a unidade, torna-se uma luta incessável pela ocupação do topo. Que deveria ser de todas e todos, no seu momento coletivo de caminhar rumo ao ápice.
São essas duas visões que experimentamos hoje. Grupos que acreditam na comunhão, em caminhar juntos, em integrarmos as singularidades, e aqueles que precisam garantir que nada se mova, porque creem, ilusoriamente, que estão sentados em uma camada mais arejada da dita pirâmide, e temem perder seu suposto privilégio. Sofrem miseravelmente o terror dessa perda, condicionam seu presente a uma luta inglória pela manutenção do que acreditam ser estático. Passam a vida tentando segurar o fluxo da vida, tornando-se doentes, posto que a vida é perpétuo movimento.
A cura consiste em liberar esse fluxo e confiar que os “altos e baixos” não são determinados por castas sociais, mas pelo quanto que conseguimos caminhar em direção ao nosso centro.
Cada vez mais leves e livres, e em comum união.
