Melancolia
Melão
Melancia
Melhor comertudocommel
Melado temperado + cháquentenessefriolascado
(Miora o dia?)
Quem sabe,
Mesclado com poesia.
(mesmo que em verso trucado, pra espantar agonia)
de Claudia Pucci Abrahão
Melancolia
Melão
Melancia
Melhor comertudocommel
Melado temperado + cháquentenessefriolascado
(Miora o dia?)
Quem sabe,
Mesclado com poesia.
(mesmo que em verso trucado, pra espantar agonia)
Se a semente soubesse
que seria terra sua sina
que seria, depois, socada no escuro,
que seria, nunca mais, soprada nos ares,
brotaria?
fugiria?
só
se a semente só se soubesse semente
e não também raiz
e não também caule
e não também todo o resto, até as folhas,
até as flores,
(e suas partes feito asas, borboletas)
até o fruto.
(voltando a ser grão com desejo de terra).
Se semente se soubesse só
nunca seria.
ainda bem que elas só são.
Te vejo
Muito
Além
Do crepúsculo dos dias,
Da demanda (abençoada) das crias,
Da insônia (árida) em noites frias,
Do caos e o extremo oposto, apatia.
Te vejo além
Na valsinha que dançamos um dia
No passo quente que suporta a alegria
Nas mãos que se contentam, apenas
Na escuta do teu peito, impulso
No toque que transcende,
Transmuta,
Transporta,
Pro tempo que nos lembre
Sussurre
As curas
Pro som que nos ampare
E leve,
Seguros
Pra casa que nos cabe.
Te sinto
(na pele, nos poros)
Além do sol poente
(de um mundo doente)
Além dos sete outonos, invernos, tumultos
Além do próprio medo.
(um mundo-segredo)
Te vejo
No espaço do ensejo,
Com tom de quem te ama
(E cuida, e espera)
E canta todo dia
(em quase silêncio)
canção de primavera.
Como ser flor
Em tempos obscuros
Sem ofender, com a cor,
A nuvem cinza que se pensa apenas pesada?
Que pensa carregar penas,
Mas leva as águas,
Destemperadas
Que, uma vez desabadas,
Soltas na terra, como gozo de claro destino,
Vertem dores, desatino
num singelo e pequenino
(broto)
indicio de novas floradas
Esse é só o começo.
Não se detém, de forma alguma, o que está no cerne de uma nação.
Em 2018, no auge do meu desalento, eu pensei: “Como as forças dessa terra permitiram isso? Tanto ódio, tanta injustiça?”
Difícil lidar com tanto, partindo da ignorância de quem vive a vida em tempo linear, segundo após segundo, ao rés do chão. Mas em suave perspectiva histórica, poucos meses depois, a despeito de gritos despeitados, a semente não apenas brotou. Rompeu o solo com tudo e desabrochou na maior ópera a céu aberto do planeta.
Eis nossa resistência: o grito forjado na festa. No passo do corpo livre, ao som de tambores, mexendo com tudo, deixando de lado todo moralismo que nunca foi nosso: veio importado em pele extrativista.
Pois bem, bem-vida seja a nossa cura. Pois se as sombras todas também saíram em desfile, é tempo de cuidar. E harmonia, como uma escola de samba bem sabe, não um exército marchando uníssono no medo e na violência covarde. É diversidade que dança junto, cada qual a seu passo, movida pelo sentido de alegria e beleza.
Valeu, Mangueira, por ter me lavado a alma!